Carta do Gestor/Informativo Mensal Janeiro de 2025
- Carta do gestor
- 10 de fevereiro de 2025
O ano de 2025 começou com apreensão quanto às possíveis implicações da posse de Donald Trump em 20 de janeiro e seus efeitos sobre a economia global. No entanto, em vez das tarifas rígidas prometidas durante a campanha, o presidente adotou um tom mais moderado, sinalizando medidas protecionistas em escala reduzida. Esse movimento levou ao desmonte de posições defensivas, especialmente no dólar, e trouxe alívio aos mercados emergentes. As bolsas na Europa e nos Estados Unidos atingiram patamares próximos às máximas históricas, enquanto o dólar permaneceu estável frente ao G4, mas se fortaleceu ante as moedas emergentes.
O Fed, em sua primeira reunião do ano, manteve a taxa inalterada em 4,25%, adotando uma postura cautelosa para avaliar os impactos econômicos das possíveis medidas de Donald Trump, como tarifas comerciais, seus reflexos sobre a inflação, a deportação de imigrantes e as reações do mercado de trabalho. No entanto, o Banco Central americano sinalizou abertura para eventuais cortes, afirmando que a política monetária ainda está distante do nível neutro. O mercado projeta de um a dois cortes na taxa até o fim de 2025.
O Banco Central Europeu anunciou um novo corte nos juros, reduzindo a taxa para 2,75% a.a., impulsionado pelo avanço no controle da inflação, que deve atingir a meta este ano, e pelo enfraquecimento da atividade econômica. O crescimento na zona do euro estagnou no quarto trimestre, com quedas no PIB da Alemanha e da França, enquanto o setor manufatureiro alemão segue sem impulso e sob o temor das tarifas dos EUA. O PIB da zona do euro encerrou 2024 com crescimento de apenas 0,9%.
Na China, a atividade econômica enfraqueceu em janeiro, refletindo queda na indústria e menor crescimento nos serviços, em meio às incertezas sobre as tarifas comerciais. A retração afetou os níveis de novos pedidos, reduzindo a demanda por exportações. O setor de construção voltou à contração (abaixo de 50), a indústria retornou ao território negativo após três meses de expansão, e os serviços registraram a maior queda em pedidos externos desde dezembro de 2022. A demanda interna também arrefeceu, pressionando a inflação. A boa notícia foi a desaceleração do ritmo de deflação dos preços das matérias-primas.
O Banco do Japão elevou a taxa de juros para 0,50% a.a., ressaltando que os juros reais seguem negativos e que novos ajustes poderão ocorrer conforme as projeções se confirmem. Até o momento, os aumentos implementados tiveram impacto limitado sobre o consumo, e a autoridade monetária aguarda a evolução dos salários e da inflação subjacente para avaliar novos movimentos.
No Reino Unido, o mês foi marcado por turbulências fiscais. O custo da dívida subiu, os rendimentos dos gilts avançaram, e a libra atingiu o menor valor desde o fim de 2023, refletindo preocupações com inflação, crescimento fraco e aumento dos gastos públicos. Em resposta, Rishi Sunak reafirmou seu compromisso com regras fiscais rígidas e indicou que cortes de gastos poderão ser necessários antes da atualização orçamentária de março.
No Brasil, com o Congresso em recesso e um posicionamento mais moderado de Donald Trump, o mercado – especialmente o investidor estrangeiro – desmontou posições compradas em dólar e vendidas em bolsa. Esse ajuste gerou um rali inesperado, com o dólar recuando mais de 5% e a bolsa avançando 4,8%, sem qualquer notícia nova no campo fiscal que justificasse o movimento. A leitura hoje é clara: o mercado estava excessivamente pessimista e premiado, e essa distorção foi corrigida.
O Banco Central do Brasil elevou a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 13,25%, conforme esperado, e manteve o guidance para um novo aumento de igual magnitude na próxima reunião. No entanto, o comunicado foi interpretado como dovish, ao destacar a fraqueza da atividade econômica no balanço de riscos. Antes, a autoridade monetária mencionava um cenário externo mais fraco, mas retirou essa referência, mantendo apenas a atividade doméstica, reforçando que o ambiente global segue desafiador e a inflação ainda está acima da meta, mas sem fechar a porta para novas elevações. Após a reunião, o mercado passou a projetar uma taxa terminal entre 14,25% e 15,25% no máximo.
Nossa visão para 2025 segue cautelosa. A volatilidade externa deve permanecer elevada sob a gestão de Donald Trump, e, no cenário local, seguimos pessimistas quanto ao fiscal, principalmente diante da perda de popularidade do presidente Lula. Com a valorização dos ativos brasileiros, o governo parece menos propenso a sinalizar cortes de gastos, mantendo sua defesa da isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil e da retomada da tributação sobre lucros e dividendos. Esses fatores podem gerar novos episódios de estresse, mas seguimos adotando posições táticas. Em janeiro, tivemos êxito nas operações com dólar e bolsa, mas registramos perdas no mercado de juros, onde uma posição tomada foi encerrada após a decisão do Copom.