Carta do Gestor/Informativo Mensal Dezembro de 2024
- Carta do gestor
- 7 de janeiro de 2025
Na última reunião do ano, o FED definiu um novo rumo para a taxa de juros nos Estados Unidos ao anunciar mais um corte de 0,25%, levando-a a 4,25%. O tom do discurso foi duro, refletindo as revisões nas projeções, com destaque para uma desinflação mais lenta do que o esperado e uma atividade mais robusta. Com isso, o FED sinalizou apenas dois cortes na taxa de juros em 2025.
O FED destacou que o mercado de trabalho continua sólido, mas ponderou se este poderá, no futuro, exercer alguma pressão inflacionária, uma preocupação que havia sido descartada na reunião anterior. Também reconheceu uma piora nos indicadores recentes de inflação, com o último índice PCE alinhado às expectativas, mas revelando um núcleo inflacionário ainda elevado, rodando em 2,8%. A partir de 2025, a entrada de Donald Trump no poder e a possível implementação de tarifas adicionais poderão trazer um impacto inflacionário adicional, exigindo atenção nas políticas monetárias.
O Banco Central Europeu (BCE) reduziu a taxa de juros em 0,25%, alcançando 3%. Em seu comunicado, ressaltou que o processo de desinflação está progredindo satisfatoriamente e reafirmou seu compromisso com a estabilização sustentável da inflação na meta de 2% no médio prazo. Apesar de não estabelecer uma trajetória prévia para as taxas, o BCE indicou que, devido à fragilidade da atividade econômica na região, novos cortes deverão ocorrer de forma gradual. Contudo, expressou preocupações com potenciais choques geopolíticos que poderiam pressionar a inflação, além da possível imposição de tarifas comerciais por Donald Trump, o que poderia comprometer ainda mais o crescimento econômico da zona do euro.
O Banco da Inglaterra (BOE), por sua vez, decidiu manter a taxa de juros estável em 4,75%, em linha com as expectativas do mercado, visando consolidar a confiança no processo de desinflação. A decisão foi influenciada por sinais de crescimento salarial e alguns indicadores de expectativas que aumentam o risco de persistência inflacionária. O BOE reforçou sua postura restritiva e cautelosa, mantendo as taxas em níveis elevados pelo tempo necessário para garantir o retorno da inflação à meta de 2%. O placar apertado da votação, 6 a 3, sinaliza uma provável flexibilização em 2025, com o mercado já precificando dois cortes de 0,25%, com a possibilidade de um terceiro. O Banco também destacou os riscos geopolíticos e comerciais, enfatizando que a entrada de Donald Trump no poder, combinada com impactos fiscais e os sinais de fraqueza na atividade econômica, pode agravar o cenário e intensificar o risco de estagflação no Reino Unido.
O Banco Popular da China manteve a taxa de referência em 3,10%, sem surpresas para o mercado. Contudo, o governo anunciou planos de ampliação dos gastos públicos em 2025, priorizando o consumo como estratégia para revitalizar a economia diante das possíveis tarifas americanas sobre exportações. Pela segunda vez em uma década, a conferência central de trabalho econômico definiu como principal objetivo estimular o consumo e ampliar a demanda interna, levando à decisão de elevar a meta de déficit fiscal para 2025.
No Japão, as taxas de juros foram mantidas, mas Kazuo Ueda indicou a possibilidade de um aumento em janeiro ou março, dependendo das ações de Donald Trump em relação ao comércio global e seus efeitos. A inflação japonesa, excluindo alimentos frescos, acelerou para 2,7% em novembro, acima do consenso de 2,6% e superior ao aumento de 2,3% registrado em outubro, pressionada por custos energéticos. Esse cenário aumentou a probabilidade de um ajuste nas taxas já no início do ano.
No Brasil, dezembro foi marcado por instabilidade devido à demora na aprovação de medidas fiscais e à descrença sobre sua eficácia. Enquanto o governo projeta uma economia de R$ 70 bilhões, o mercado estima valores menores, entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões até 2026. Sem cortes significativos de despesas, a dívida pode alcançar 86% do PIB até 2026, com um déficit nominal em torno de 9% do PIB, um dos maiores globalmente.
O Banco Central elevou as taxas de juros em 100 pontos-base, para 12,25%, e sinalizou mais dois aumentos de mesma magnitude, podendo atingir 14,25%. A decisão visa conter a inflação corrente e expectativas desancoradas, em um ambiente de riscos assimétricos e cenário externo desafiador. A atividade econômica interna permanece robusta, e as incertezas fiscais têm pressionado o câmbio, que chegou a R$ 6,30 por dólar após pânico no mercado. Em resposta, o Banco Central realizou a maior intervenção cambial da história, vendendo US$ 8 bilhões no mercado à vista, enquanto o Tesouro Nacional atuou na compra de títulos para conter o aumento das taxas de juros futuras, que chegaram a projetar até 17,5%-18% para 2026.
Em resumo, as expectativas para 2025 apontam para um cenário de ajustes e desafios econômicos globais. Nos Estados Unidos, a posse de Donald Trump deve gerar volatilidade, especialmente devido às tarifas prometidas durante a campanha, que podem impactar a inflação e o comércio mundial, levando os países afetados a desvalorizarem suas moedas. Na Europa, projeta-se maior flexibilização monetária para estimular o crescimento econômico, desde que a inflação permita, com a taxa real possivelmente atingindo zero. Na China, espera-se um aumento no déficit público, queda nos juros e desvalorização da moeda como respostas às tarifas americanas. O Japão, por sua vez, deve encerrar sua política monetária acomodatícia, com previsão de aumento nas taxas de juros. Já no Brasil, a preocupação gira em torno da ausência de cortes de gastos; sem mudanças estruturais, são esperados desvalorização cambial adicional, taxas de juros entre 15,25% e 15,75%, inflação próxima a 6%, aumento da dívida em relação ao PIB e crescimento econômico modesto, em torno de 2%.
Desejamos a todos um excelente 2025! Seguimos firmes em nosso compromisso com a retomada, transformando desafios em oportunidades e superando os obstáculos que fizeram de 2024 um dos anos mais desafiadores desde 1997. Que este novo ano seja repleto de conquistas e avanços!