Carta do Gestor/Informativo Mensal de Junho de 2025
- Carta do gestor
- 8 de julho de 2025
No mês de junho, tivemos mais um evento de guerra, com Israel atacando o Irã em uma tentativa de destruir as bases nucleares, sob a supervisão dos Estados Unidos. Inicialmente, os EUA não participaram diretamente, mas posteriormente decidiram se juntar aos israelenses, bombardeando três locais essenciais ao programa nuclear iraniano, incluindo as instalações de enriquecimento de urânio em Fordow.
O mundo temia uma retaliação do Irã, que ocorreu de forma controlada. Sem o fechamento do canal de Ormuz e com aviso prévio, o país atacou bases americanas no Oriente Médio. No final do dia, Donald Trump anunciou um cessar-fogo entre Irã e Israel. Foi um ataque bem-sucedido, com o Irã reconhecendo perdas significativas, os Estados Unidos afirmando ter eliminado as ameaças nucleares, e o Irã alegando que os objetivos militares israelenses não foram plenamente atingidos. Ainda assim, a situação dos sítios nucleares subterrâneos permanece incerta, mas o anúncio do cessar-fogo foi suficiente para os mercados retornarem à normalidade.
Em resumo, o semestre foi positivo para euro que acumulou valorização de 13%, enquanto a bolsa da Alemanha subiu 20%, apesar dos desafios na economia real. Nos Estados Unidos, o S&P 500 avançou 5% e o Nasdaq 100 registrou alta de 7%. Entre as moedas, o iene japonês se valorizou 8% e o real brasileiro, 12%. Já a bolsa brasileira teve um desempenho expressivo, com valorização de 15%.
O FED manteve a taxa de juros inalterada, mesmo com a pressão de Donald Trump para reduzi-las. Essa pressão não surtiu efeito. No geral, o tom foi mais moderado. O dot plot manteve a previsão de dois cortes de juros em 2025. Jerome Powell enfatizou que a economia está em bom estado e que o comitê aguarda os impactos completos sobre a inflação, esperando que os dados comecem a ficar mais claros durante o verão.
Em discurso ao Congresso, Powell afirmou que a inflação mais baixa e o enfraquecimento do mercado de trabalho podem justificar cortes antecipados, especialmente se o PIB continuar fraco. Esse enfraquecimento é impulsionado pelo consumo menor, influenciado por serviços, e pela retração nos investimentos residenciais. O PCE veio em linha com o esperado, e a métrica de três meses mostrou desaceleração em todas as categorias, mesmo com o headline mais elevado na comparação interanual. Após esse dado, a probabilidade do primeiro corte em setembro subiu para 80%, e o índice do dólar DXY atingiu a menor cotação do ano.
O Banco da Inglaterra manteve a taxa de juros em 4,25%, com seis membros do comitê votando pela manutenção e três optando por um corte de 0,25 ponto percentual. O comitê avaliou que há uma desinflação em curso, desaceleração dos salários e alguma folga no mercado de trabalho, apesar das incertezas geopolíticas e econômicas elevadas. A inflação de longo prazo está estável, mas pode haver pressão vinda dos preços do petróleo, agravada pelos conflitos no Oriente Médio. Após a reunião, o mercado passou a precificar duas quedas de juros em 2025, com início em agosto.
O Banco Central Europeu reduziu novamente os juros para 2%, realizando o oitavo corte em um ano, mas sinalizou uma possível pausa em julho. O BCE acredita que a batalha contra a inflação foi vencida, com a taxa anual atingindo 1,9%, apesar das incertezas provocadas pelas políticas comerciais do presidente Donald Trump, que seguem adicionando riscos ao cenário global.
O parlamento alemão aprovou um pacote de 46 bilhões de euros em cortes de impostos. A medida busca reanimar a economia alemã, que encolheu nos últimos dois anos e deve estagnar em 2025. O pacote visa impulsionar o crescimento no médio prazo, com redução gradual de tributos corporativos, alívio fiscal na compra de veículos elétricos e incentivos para investimentos em máquinas.
A China manteve a taxa de juros referencial de 1 ano em 3%, conforme esperado pelo mercado. A redução das tensões comerciais, com um acordo preliminar com os Estados Unidos, reduziu a pressão por novos estímulos. O acordo prevê que a China revise e aprove exportações de itens controlados, como minerais e ímãs de terras raras, essenciais para setores como energia e aviação. Os Estados Unidos, por sua vez, se comprometeram a suspender medidas restritivas e retaliatórias assim que as exportações forem retomadas.
Como reflexo desse ambiente mais favorável, o PMI mostrou uma contração menor na demanda, principalmente na externa, que voltou ao campo positivo. A produção apresentou expansão, registrando o maior nível do trimestre, refletindo as políticas de apoio ao consumo e uma melhora nas negociações comerciais.
O Banco Central do Japão manteve a taxa de juros em 0,50% e anunciou que reduzirá, a partir do próximo ano, o ritmo de retirada de títulos do mercado, de 400 para 200 bilhões de ienes por trimestre, com o objetivo de evitar instabilidades no mercado de títulos após recentes episódios de volatilidade. A medida faz parte do processo de normalização da política monetária, que segue atento à inflação, ainda acima da meta de 2%, e aos impactos das tensões comerciais globais e dos conflitos no Oriente Médio, que adicionam incertezas ao cenário. Apesar de uma desaceleração em julho, quando o núcleo da inflação subiu 3,1% (abaixo das expectativas de 3,3%), os preços seguem pressionados, especialmente pelos aluguéis residenciais em Tóquio, que registraram em abril a maior alta em 30 anos, com avanço de 1,3%, impulsionados pelos custos mais elevados das hipotecas. Como os aluguéis representam cerca de 20% do índice de inflação, o impacto sobre o custo de vida é significativo, fator que contribuiu para a queda na popularidade do premiê Ishiba, apesar de alívios pontuais, como os subsídios nas contas de água antes das eleições.
O Banco Central do Brasil aumentou a taxa em 0,25% para 15% ao ano, sinalizando o encerramento do ciclo de alta e a manutenção em níveis elevados por um período prolongado, até a convergência da inflação à meta. O BC citou que a atividade econômica está moderando e que o ambiente externo continua incerto e adverso. A mensagem é de cautela: aguardar os dados, pois ainda estamos longe de considerar cortes nos juros.
A divulgação da PNAD, mostrando recorde de empregados com carteira assinada, somada à ênfase do BC no dinamismo do mercado de trabalho, ofuscou o bom resultado da inflação, com destaque para a desaceleração nos preços dos alimentos. Bens industriais também surpreenderam para baixo. O câmbio tem ajudado, sendo um fator importante nessa trajetória mais benigna. Trabalhamos com inflação de 5,2% em 2025 e 4,5% em 2026. Para o câmbio, projetamos algo em torno de R$ 5,75 e R$ 5,80, com crescimento de 2,3% em 2025 e 1,9% em 2026.
O governo convive com baixa popularidade e um Congresso mais ostensivo, em parte devido à perda de força do Executivo. Primeiro foi um problema de comunicação sobre o PIX, depois o escândalo do INSS. Como resultado, deputados e senadores derrubaram a proposta de aumento do IOF feita pelo governo, que causou muito barulho no mês passado e teria ajudado no ajuste fiscal. O mercado agora especula sobre uma possível mudança na meta fiscal para 2026.
Apesar disso, o cenário político doméstico permanece em segundo plano, diante da narrativa dominante de fraqueza do dólar e diversificação global de carteiras, em meio às incertezas trazidas pelas tarifas de Trump. Mesmo com a melhora no cenário comercial, neste mês vimos a bolsa americana retornar aos níveis pós-eleição de Trump, e o DXY atingir sua menor cotação do ano. Já as bolsas de países emergentes ficaram estáveis.
Acreditávamos que o Banco Central manteria a taxa, considerando que a política monetária já está bastante restritiva frente a uma inflação de 5,2%. O aumento de 0,25 ponto percentual apenas piorou o déficit nominal, ao elevar os custos com juros. O ambiente político já era conturbado, e o BC poderia ter evitado mais ruídos. Nosso mês foi prejudicado por perdas em juros e bolsa. Acreditávamos que haveria valorização, devido ao ambiente externo favorável e à queda do presidente Lula nas pesquisas, mas isso não se concretizou. Ganhamos no dólar e na bolsa americana.
Para julho, esperamos que o Fed sinalize um corte de juros em setembro. Com isso, o cenário de dólar fraco deve persistir globalmente, até que o crescimento da economia americana volte a liderar ou que a inflação suba, o que não é o cenário-base no momento. O Brasil segue melhorando os preços dos ativos por influência externa, já que o cenário doméstico continua conturbado e, por ora, sem impacto relevante sobre os ativos. Seguimos para o segundo semestre na nossa batalha de “subir o morro, às vezes com areia movediça.”