Carta do Gestor/Informativo Mensal de Abril de 2025
- Carta do gestor
- 9 de maio de 2025
O mês de abril de 2025 entrou para a história como um dos mais voláteis do período recente e será lembrado por muito tempo. O presidente Donald Trump, ao adotar uma política agressiva de tarifas sobre seus principais parceiros comerciais, gerou grande instabilidade nos mercados. Suas decisões contraditórias colocaram em xeque a hegemonia dos Estados Unidos como um país considerado seguro para investimentos.
Em abril, observou-se a maior saída de recursos de investidores estrangeiros. O dólar se enfraqueceu, o ouro atingiu máximas históricas e os juros dos títulos de 10 anos subiram para 4,60%, contrariando o movimento típico de crises, quando normalmente caem. As bolsas americanas chegaram a recuar até 20% de suas máximas, evidenciando a aversão a ativos do país, uma ocorrência rara.
Tudo começou em 02/04, quando Trump anunciou as tarifas mais altas em um século: um mínimo de 10% sobre todas as importações e mais de 50% para países como China, Europa, Japão e Vietnã. O objetivo era fortalecer a indústria americana e corrigir desequilíbrios comerciais. O mercado reagiu mal, temendo retaliações, aumento da inflação e risco de recessão nos Estados Unidos, além de uma desaceleração global.
Com o dólar enfraquecido e os juros longos em alta, cresceu o temor de um risco sistêmico. Em resposta, Trump anunciou em 09/04 uma pausa de 90 dias nas tarifas. No entanto, aumentou as tarifas para a China para 125%. O mercado reagiu positivamente: a bolsa americana subiu 9% em um único dia, a maior alta desde 2008.
Posteriormente, Trump passou a criticar o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, por não reduzir imediatamente a taxa de juros, citando a queda nos preços de energia e alimentos. Chegou a chamá-lo de “Sr. Atrasado”. A declaração causou nova queda nos mercados no dia 17/04. No dia seguinte, Trump recuou e afirmou que não pretendia demitir Powell, apenas expressava frustração com sua lentidão. A sinalização acalmou os mercados temporariamente.
O PIB dos EUA no primeiro trimestre caiu 0,30%, principalmente devido à antecipação de importações antes das tarifas. Ainda assim, a demanda doméstica mostrou resiliência. O índice PCE (inflação) teve o núcleo desacelerando de 2,9% para 2,6% na comparação anual, indicando melhora na dinâmica de desinflação. No entanto, na média móvel trimestral anualizada, o núcleo subiu de 3,1% para 3,7%, refletindo os efeitos das tarifas.
Segundo o mercado futuro de juros da bolsa de Chicago, há uma probabilidade de 40% de que o Fed corte os juros em 1,0% até o final do ano. A segunda maior aposta é de um corte de 1,25%. Com essa expectativa e o recuo parcial das tarifas, o mercado acionário praticamente recuperou as perdas do mês, e os títulos de 10 anos fecharam o mês em 4,15% ao ano.
Os membros do comitê do Fed adotaram uma postura de “esperar para ver”, aguardando mais dados antes de novas decisões. Embora reconheçam que as tarifas podem gerar inflação temporária, alertam para impactos mais duradouros sobre a confiança empresarial e o nível de atividade. O Fed deve manter os juros na reunião de maio, aguardando maior clareza sobre os efeitos das medidas.
O Banco Central Europeu (BCE) reduziu a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, para 2,25%, durante sua reunião de abril. A decisão foi unânime. Os riscos negativos para o crescimento econômico aumentaram, e o impacto das tarifas nos preços ainda é incerto, exigindo tempo para avaliação. O aumento da incerteza na política comercial pode reduzir o investimento empresarial na zona do euro, enfraquecer o crescimento e gerar efeitos recessivos nos países envolvidos. Ainda há espaço para cortes graduais nas taxas de juros.
O Banco Popular da China manteve as taxas de juros estáveis, com a taxa de 1 ano em 3,1% e a taxa de 5 anos em 3,6%. A decisão sinaliza que Pequim prefere impulsionar o crescimento por meio de medidas fiscais, em vez de recorrer à flexibilização monetária.
A economia chinesa cresceu 5,4% no primeiro trimestre, superando as expectativas do mercado, impulsionada pela recuperação do consumo doméstico e por medidas de apoio do governo. Apesar dos dados positivos, o sentimento dos investidores é de que o melhor momento já passou, devido à guerra comercial com os Estados Unidos. A partir de abril, essa disputa começou a impactar a atividade comercial, com queda nos movimentos portuários e nas encomendas globais.
Os dados de abril da produção industrial já revelam os primeiros impactos da guerra comercial na economia chinesa. O índice recuou para 49, ante 50,4 em março e 49,5 esperados pelo mercado, a pior contração desde dezembro de 2023. Em resposta, autoridades anunciaram novas medidas de apoio às empresas exportadoras afetadas, incluindo maior acesso ao crédito e estímulos ao consumo interno, com o objetivo de conter os efeitos da queda nas exportações e evitar demissões em massa.
O Banco do Japão manteve a taxa de juros inalterada em 0,50% ao ano, citando incertezas quanto aos efeitos da política tarifária dos Estados Unidos sobre a economia japonesa. A instituição também reduziu sua projeção de crescimento do PIB para o ano fiscal de 2026 (encerrado em março) de 1,1% para 0,50%, alertando que poderá revisar novamente suas previsões, diante do alto grau de incerteza.
No Brasil, abril foi um mês positivo, com desempenho distinto do observado em economias desenvolvidas. O país foi beneficiado pela rotação de carteiras, motivada pela fuga de ativos norte-americanos, direcionando parte desse fluxo para mercados emergentes. O Brasil também se beneficiou do piso de 10% na alíquota de tarifas da guerra comercial. Diante do cenário de desaceleração global, cresceu a expectativa de que o ciclo de alta da Selic seja encerrado em breve, possivelmente ao redor de 15%. A bolsa brasileira subiu 3,7% no mês, acumulando alta de 12% em 2025, com fechamento da curva de juros e valorização do real para R$ 5,60. O tema fiscal, embora relevante, foi momentaneamente deixado em segundo plano pelos investidores.
Na minha opinião, o Copom deve elevar a taxa Selic para 14,75% na próxima reunião, em 06/05, mantendo a decisão seguinte em aberto para avaliar a evolução do cenário. Pode haver mais uma alta de 0,25 ponto ou até mesmo uma pausa, caso a atividade econômica global desacelere mais rapidamente. A conclusão é que o ciclo de aperto monetário está próximo do fim.
Quanto ao dólar, é possível observar uma valorização adicional da moeda brasileira até a faixa de R$ 5,50, caso o Banco Central brasileiro continue elevando os juros enquanto o Fed os reduz, tornando o diferencial de juros mais atrativo. No entanto, esperamos certa depreciação do real no último trimestre do ano.
Durante o mês de abril, mantivemos uma postura tática, sem posições estruturais definidas, atuando apenas em operações de curto prazo (overnight e intraday) devido à elevada volatilidade gerada pelas declarações de Donald Trump. Cada pronunciamento provocava oscilações bruscas nos mercados. Ainda assim, obtivemos ganhos em moeda, na bolsa brasileira, em juros e também no mercado americano. Pretendemos manter essa abordagem para maio, até que a volatilidade diminua e o cenário econômico apresente maior estabilidade.