Carta do Gestor/Informativo Mensal de Setembro de 2025

O principal evento do mês de setembro foi a decisão do Banco Central Americano (FED) de iniciar o ciclo de queda das taxas de juros, com corte de 0,25 ponto percentual, reduzindo a taxa para 4,00%. A medida, amplamente esperada pelo mercado, contou com um voto dissidente favorável a um corte maior, de 0,50 p.p. O comitê avaliou riscos crescentes relacionados ao mercado de trabalho, cuja taxa de desemprego aumentou recentemente. Assim, a política monetária, atualmente restritiva, pode gradualmente se mover para um nível neutro, sinalizando espaço para novos cortes à frente.

O FED destacou que os riscos para seus mandatos (inflação e emprego) aumentaram, sobretudo no mercado de trabalho. Por isso, o corte foi caracterizado como instrumento de gerenciamento de risco. A atividade econômica foi descrita como moderada, influenciada pela redução do consumo das famílias em geral. Powell enfatizou, porém, que parte relevante da expansão recente decorre de dois fatores: investimentos corporativos em capacidade de inteligência artificial e maior consumo entre famílias de alta renda.

Em relação à inflação, o cenário-base passou a considerar um choque temporário, com repasse tarifário mais lento e menor do que o previsto meses atrás. O aumento recente concentrou-se em bens, com efeitos ainda modestos, mas que podem se acumular até o final do ano. Ressaltou-se que os riscos altistas eram maiores em abril e diminuíram à medida que o impacto tarifário se mostrou mais contido.

As projeções do FED apontam taxa de desemprego de 4,5% em 2025, caindo para 4,4% em 2026; inflação de 3,0% em 2025 e 2,6% em 2026; e crescimento do PIB de 1,6% em 2025 e 2,8% em 2026. Para os juros, a mediana de 2026 foi revista de 3,6% para 3,4%, com expectativa de juro real neutro em 1%.

Uma boa notícia foi a revisão do PIB do segundo trimestre, de 3,3% para 3,8%, impulsionado pela recuperação do consumo privado e de serviços, compensando a queda no consumo de bens duráveis. A inflação medida pelo PCE veio em linha com as expectativas no índice cheio e no núcleo, reforçando a visão do FED: serviços em patamar elevado, repasse tarifário limitado, alta em alimentos e energia, e queda em bens duráveis, móveis, eletrodomésticos e recreativos. O dado foi considerado positivo por não trazer surpresas em meio às incertezas globais.

Na Europa, o Banco Central Europeu manteve a taxa de juros em 2%, em linha com o esperado, deixando decisões futuras dependentes dos dados. A inflação segue próxima da meta de médio prazo, e o crescimento mostrou melhora, com avanço de 1,2% do PIB frente à expectativa de 0,9%. Chamou atenção a projeção de inflação subjacente em 1,7% e de PIB em 1,3% para 2026. Ainda assim, Lagarde apontou tarifas mais elevadas, euro valorizado e concorrência global como fatores que podem limitar o crescimento no longo prazo. Sobre a instabilidade política na França, mencionou apenas que os mercados de dívida soberana seguem líquidos e sem disfunções.

O Banco da Inglaterra também manteve a taxa em 4%. A decisão não foi unânime: dois membros votaram por corte imediato. O comitê reforçou que futuros ajustes serão graduais e dependentes da evolução das pressões desinflacionárias. A inflação de agosto permaneceu em 3,8%, conforme esperado. Os alimentos subiram 4,8%, enquanto serviços recuaram de 5,0% para 4,7%, ainda em nível desconfortável. Com isso, a expectativa é de manutenção da taxa em 4% por mais tempo.

Na Ásia, o Banco Central da China manteve as taxas estáveis, em linha com expectativas, diante de nova desaceleração da atividade, marcada por queda na produção industrial e menor crescimento das vendas no varejo. O Banco do Japão, por sua vez, manteve os juros em 0,50%, apesar de dois votos a favor de alta. A inflação de agosto foi de 2,7%, abaixo dos 3,1% de julho e no menor nível desde novembro de 2024, marcando o terceiro mês de queda consecutiva. Isso reduziu a probabilidade de alta em outubro, embora a inflação siga acima da meta de 2%.

No Brasil, o Banco Central manteve a taxa Selic em 15%, em decisão unânime e considerada mais “hawkish”. O principal destaque foi a projeção do IPCA para o horizonte relevante (1T27), mantida em 3,40%, contrariando expectativas de revisão para baixo. O comitê sinalizou que seguirá vigilante, diante de atividade ainda resiliente. Após o IPCA de agosto e o Relatório de Inflação, o mercado praticamente descartou cortes em 2025, precificando início do ciclo apenas em janeiro de 2026. O discurso de Gabriel Galípolo reforçou essa visão ao destacar surpresa positiva do PIB nos últimos três anos, mercado de trabalho apertado e inflação acima da meta, embora as expectativas estejam começando a ceder.

Nos mercados, tivemos desempenho positivo em setembro: ganhos na bolsa local, além de lucros em dólar e iene. Houve perdas na bolsa americana e prejuízo com opções de queda de juros para dezembro, zeradas após a decisão do Copom. Nossa visão é que os cortes devem começar em janeiro de 2026, em 0,25 p.p. O FED deve reduzir juros pelo menos mais uma vez até o final do ano, possivelmente duas vezes, dependendo da inflação. Seguimos para outubro com posições mais leves e manteremos nossa estratégia de trading para buscar resultados consistentes.