Carta do Gestor/Informativo Mensal de Agosto de 2025
- Carta do gestor
- 4 de setembro de 2025
O mês de agosto foi decisivo para os próximos passos da política monetária americana. Após a divulgação de um payroll abaixo do esperado, com fortes revisões baixistas entre maio e junho tanto no setor privado quanto no público — este último ainda em processo de enxugamento do quadro de funcionários — o mercado passou a precificar o início do ciclo de cortes de juros já em setembro. Os dados de atividade também vieram mais fracos, embora ainda em patamar elevado. A boa notícia foi a desaceleração nos preços de insumos, mesmo em meio às incertezas ligadas às tarifas recíprocas.
O presidente Donald Trump, inconformado com os números de emprego, demitiu Ericka Mcentarfer, responsável pelo Bureau of Labor Statistics (BLS). A decisão, amplamente criticada, foi interpretada como ataque à independência institucional, sob a alegação de que ela, por pertencer ao partido democrata, teria interesse em divulgar dados negativos. Trump também aumentou a pressão sobre Powell para acelerar os cortes de juros, afirmando que o Fed está atrasado e prejudicando a economia. Como se não bastasse, anunciou a demissão de Lisa Cook, diretora do Federal Reserve, sob acusação de falsificação de documentos hipotecários. Cook se recusou a deixar o cargo, alegando que o presidente não tem autoridade para removê-la, iniciando-se uma disputa judicial.
Em seu discurso, Powell reconheceu riscos crescentes para o mercado de trabalho e sinalizou perda de tração no consumo das famílias e nos investimentos. Reforçou ainda o compromisso com a meta de inflação de 2%, destacando que, apesar da desaceleração desde o pico da pandemia, o índice segue acima da meta. Os efeitos das tarifas já são visíveis nos bens, mas a magnitude e o timing do repasse permanecem incertos. O cenário base do Fed é de impacto pontual, com possível repasse lento e prolongado, mas com expectativas de inflação ainda ancoradas no longo prazo. Diante de uma política monetária em território moderadamente restritivo e do balanço de riscos se deslocando, Powell abriu espaço para o início dos cortes em setembro.
Na zona do euro, a inflação surpreendeu para baixo na França, Espanha e Itália, reforçando a visão de que as pressões de preços seguem próximas à meta de 2% do BCE. No entanto, o ambiente econômico diverge entre países: a França perdeu fôlego em meio às incertezas políticas e fiscais, com queda no consumo; a Espanha manteve-se como a economia mais dinâmica do bloco; e a Itália apresentou atividade em linha. Nesse contexto, o BCE deve manter os juros inalterados em setembro, dado o quadro estável de inflação e atividade irregular.
No Reino Unido, a inflação subiu para 3,8% em julho, maior nível em 18 meses, impulsionada por alimentos, transportes, combustíveis, hotéis e restaurantes. O núcleo de serviços avançou para 5%, acima da previsão de 4,9%, aumentando preocupações sobre a persistência inflacionária e pressionando o Banco da Inglaterra a rever o ritmo de cortes após a recente redução da taxa para 4%. A autoridade monetária ainda prevê pico de 4% em setembro, antes de um recuo, mas fatores temporários como tarifas aéreas e alta das commodities colocam esse cenário em risco. O governo Starmer enfrenta dificuldades adicionais, já que a recuperação da renda real perde força em meio a um mercado de trabalho mais fraco e ao impacto do orçamento expansionista de abril.
A economia chinesa desacelerou fortemente em julho, com quedas generalizadas na produção industrial, vendas no varejo e investimentos, impactada tanto por medidas internas contra a guerra de preços quanto pelas tarifas impostas pelos EUA. O Banco Central da China manteve as taxas inalteradas, sinalizando cautela em adotar cortes amplos de juros ou compulsório, apesar da pior performance do ano em julho. A política segue moderadamente frouxa, focada em medidas direcionadas. Analistas avaliam que a melhora recente nos núcleos do CPI pode permitir novos cortes no final de 2025 (10–20 pontos-base nos juros e 50 pontos-base no compulsório), enquanto o governo pode lançar estímulos fiscais adicionais e medidas de apoio ao consumo.
No Japão, agosto trouxe sinais de recuperação após um PIB do 2º trimestre acima do esperado (+1% anualizado), impulsionado por investimentos empresariais. O consumo das famílias, entretanto, segue pressionado pela inflação, apesar da firmeza do mercado de trabalho. Em um ambiente de incertezas globais e tensões comerciais, a perspectiva é de crescimento contido, mas em melhora gradual, o que pode levar o Banco do Japão a considerar futuras altas de juros.
No Brasil, o IPCA-15 veio ligeiramente acima do esperado, com composição mais desfavorável, puxada por serviços subjacentes. Ainda assim, os núcleos não alteraram a expectativa de inflação: 4,7% para 2025 e 4,2% para 2026. O Copom reforçou que os juros permanecerão restritivos por período suficientemente longo até a convergência da inflação à meta de 3%, sem indicar cortes até o final do ano. A desaceleração econômica observada e a queda na criação de empregos do CAGED foram avaliadas como dentro do esperado pelo comitê. A conta corrente registrou déficit de 3,5% do PIB, acendendo sinal de alerta. Caso não fosse pela fraqueza do dólar no mundo e pelo elevado juro real doméstico, a moeda brasileira provavelmente estaria sob maior pressão. Qualquer mudança no cenário externo pode reacender a percepção de vulnerabilidade diante do elevado déficit em conta corrente.
No campo político, pesquisas de agosto mostraram Tarcísio de Freitas (governador de São Paulo e provável candidato da direita) à frente de Lula em simulações de segundo turno. Esse movimento levou a bolsa a fechar no maior nível do ano, com valorização de 6,28% no mês, em parte impulsionada pelo “trade eleitoral”, embora ainda seja cedo para conclusões definitivas.
Em nossa estratégia, obtivemos ganhos na exposição estrutural à bolsa, onde mantemos posição reduzida e operamos taticamente ao longo do mês. Apostamos na queda de juros em dezembro, sustentados pelo cenário de maior desaceleração da economia brasileira em função das tarifas americanas, somado à expectativa de cortes nos EUA. Também registramos ganhos em operações de trade com dólar, iene e bolsa americana. Seguimos para setembro com a mesma dinâmica: perseguir, passo a passo, o topo da montanha.