Carta do Gestor/Informativo Mensal de Maio de 2025

Em maio, os mercados voltaram à normalidade após o encontro entre China e Estados Unidos no início do mês. Durante a reunião, foi acordada a redução temporária das tarifas. Os Estados Unidos reduziram de 145% para 30%, enquanto a China reduziu de 125% para 10%, ambas por um período de três meses. O resultado foi uma forte reação positiva nos mercados, com muitos índices recuperando perdas que chegaram a 20%. Houve destaque para o Nasdaq, que subiu 9,5%, e o S&P 500, que avançou 6% no mês.

Mesmo com as declarações de Donald Trump no último dia do mês, acusando Pequim de violar o acordo comercial, os investidores preferiram focar nos dados do PCE, que apresentou uma taxa anual de 2,50%, em linha com o esperado. O núcleo de serviços desacelerou de 0,21% para 0,06%, enquanto o chamado supercore (o núcleo de serviços excluindo habitação) recuou de 0,00% para -0,02%, o que foi considerado uma boa notícia para o Federal Reserve.

Na reunião do banco central americano, a manutenção da taxa em 4,25% já era esperada. Jerome Powell afirmou que não haverá cortes apressados nas taxas de juros, uma vez que ainda há muita incerteza em torno da política comercial. Ele destacou os riscos relacionados à inflação e ao desemprego e comentou que o custo de esperar por mais dados antes de tomar decisões é baixo. Com isso, o mercado passou a precificar duas quedas nas taxas até o fim de 2025, e os juros subiram momentaneamente.

A surpresa negativa do mês veio da agência de classificação de risco Moody’s, que rebaixou a nota de crédito dos Estados Unidos. A agência expressou preocupação com o aumento do déficit fiscal, que ultrapassa dois trilhões de dólares por ano, e com uma dívida pública que já supera o tamanho da economia. O Congresso aprovou um novo pacote fiscal proposto por Donald Trump, ampliando os cortes de impostos, o que gerará uma perda de arrecadação estimada em 4,1 trilhões de dólares nos próximos dez anos. Como reflexo, os juros de dez anos subiram para 4,50% ao ano.

No Reino Unido, o Banco da Inglaterra cortou a taxa de juros para 4,25%, uma redução de 0,25 ponto percentual. A decisão foi apertada, com placar de cinco votos a quatro. O mercado esperava unanimidade. A autoridade monetária manteve o discurso de cortes graduais e cuidadosos e alertou que a política monetária continuará restritiva enquanto for necessário para garantir a volta da inflação à meta de 2%. A previsão de crescimento foi revisada para 1% em 2025, e a inflação de curto prazo deve subir, mas não de forma persistente. Diante da alta imprevisibilidade da economia, o comitê continuará atualizando os balanços de riscos a cada reunião.

Na Europa, membros do Banco Central Europeu afirmaram que o ciclo de cortes nas taxas de juros está próximo do fim, desde que a inflação siga a trajetória esperada de estabilização em 2% nos próximos meses. No entanto, o BCE está preparado para agir caso surjam riscos inflacionários ou deflacionários, dado o cenário global incerto e os efeitos potenciais das tarifas comerciais dos Estados Unidos sobre a oferta e a demanda.

A economia da Alemanha deve permanecer estagnada em 2025, o que representaria o terceiro ano consecutivo sem crescimento, fato inédito. Para 2026, espera-se uma retomada puxada por gastos com defesa e infraestrutura. Apesar disso, a bolsa alemã vem atingindo recordes e atraindo recursos devido à busca por diversificação, e o euro segue em processo de valorização.

Na China, após o encontro inicial com os Estados Unidos, as tarifas foram reduzidas para aliviar as tensões comerciais. O Banco do Povo da China cortou a taxa primária de empréstimos de um ano para 3% e a de cinco anos para 3,5%, ambas com reduções de 10 pontos-base. Nos primeiros quatro meses de 2025, o déficit fiscal aumentou 50% em relação ao mesmo período do ano anterior. Essa ampliação busca mitigar os impactos da política tarifária adotada pelos Estados Unidos e representa uma resposta contundente por parte de Pequim.

O Japão viveu um mês turbulento no mercado de juros. O primeiro-ministro declarou que a situação fiscal do país é extremamente ruim, pior até que a da Grécia, devido ao elevado nível de endividamento. Após essa afirmação, o leilão de títulos de 20 anos registrou a menor demanda desde 2012, o que elevou os rendimentos dos títulos de 30 anos ao nível mais alto desde sua criação em 1999. Também influenciou negativamente a saída gradual do banco central japonês do mercado de dívida pública, que vinha controlando as taxas de longo prazo por meio da compra de títulos. Para tentar estabilizar o mercado, o Ministério das Finanças sinalizou um possível ajuste na emissão de dívida. Como resultado, os preços dos títulos de 40 anos subiram, o que contribuiu para acalmar os mercados globais de renda fixa.

No Brasil, o Banco Central elevou a taxa Selic para 14,75% em maio. O comunicado teve um tom mais cauteloso, sugerindo que o ciclo de alta está próximo do fim. Existe a possibilidade de um último ajuste de 0,25 ponto percentual na próxima reunião. O governo anunciou um congelamento de gastos para cumprir a meta fiscal de 2025, acompanhado por um aumento no IOF sobre operações de crédito e câmbio. A medida acabou ofuscando a boa notícia de um contingenciamento maior que o esperado.

Além disso, o Ministério da Fazenda elevou a tributação sobre aplicações em fundos no exterior, antes isentas, para 3,5%. Essa medida gerou forte reação negativa no mercado financeiro. Em resposta, o governo revogou parcialmente a medida, restabelecendo a alíquota zero. No entanto, outras mudanças permanecem em vigor, como o aumento do IOF na compra de moeda estrangeira em espécie, que passou de 1,1% para 3,5%, e a criação de uma alíquota sobre grandes aportes em planos de previdência complementar. Com esse conjunto de medidas, o governo espera arrecadar 20 bilhões de reais adicionais ainda em 2025, o que reduziria a necessidade de cortes adicionais no Orçamento.

A agência Moody’s também retirou o outlook positivo do Brasil e revisou sua nota de crédito. O mercado interpretou essa decisão como uma correção, pois a elevação anterior não se sustentava. O governo agora enfrenta uma batalha com o Congresso para aprovar o aumento do IOF. A Casa já sinalizou disposição para derrubar a medida, o que será um ponto central a ser acompanhado em junho.

Alguns analistas comparam o impacto das medidas sobre o crédito a um aperto monetário de 0,50% a 1% na Selic. Diante disso, o mercado não espera novas altas da taxa básica na próxima reunião do Copom. O PIB do primeiro trimestre cresceu 1,4%, levemente abaixo da expectativa de 1,5%. O agronegócio segue como o principal motor da economia, porém os demais setores também mostram crescimento, sustentando a atividade, com projeção para o PIB de 2025 ao redor de 2%.  Os dados de emprego da PNAD e do CAGED vieram melhores que o previsto, indicando resiliência mesmo com uma taxa de juros elevada. Ainda assim, esse desempenho não deve alterar o plano do Copom de manter a Selic em patamar elevado por mais tempo. Um corte só seria cogitado diante de uma desaceleração econômica mais acentuada.

Em maio, houve ganhos nas bolsas americanas. Já a bolsa e os juros brasileiros ficaram estáveis, enquanto houve perda no câmbio, influenciada pela medida de IOF. Inicialmente, esperava-se um impacto mais negativo, devido à natureza da medida e ao seu potencial de contaminação em outras áreas, como o crédito. No entanto, com a continuidade das vendas por parte de investidores estrangeiros, mesmo com a medida em vigor, a posição foi encerrada. O cenário externo, com o dólar enfraquecido, acabou sendo o fator predominante.

O quadro fiscal brasileiro segue desafiador, mas isso não se reflete totalmente nos preços dos ativos. A diversificação promovida pelas políticas de Donald Trump está atraindo fluxo para mercados emergentes, incluindo o Brasil, tanto em bolsa quanto em câmbio e juros. Agora, será importante observar como o governo reagirá em junho diante da pressão do Congresso para barrar o aumento do IOF. Caso a medida não seja aprovada, o impacto será positivo para a economia, mas a dificuldade para fechar as contas públicas se intensificará.

Seguimos acompanhando os próximos desdobramentos. Junho chegou, e mantemos nosso compromisso de voltar ao topo da montanha.