Carta do Gestor/Informativo Mensal de Março de 2025

O primeiro trimestre de 2025 surpreendeu os mercados, refletindo um cenário bem diferente das expectativas e projeções do final de 2024. O principal fator de incerteza foram as políticas econômicas do Presidente Americano, Donald Trump, na implementação de tarifas recíprocas aos seus parceiros comerciais, especialmente com a crescente tensão no comércio internacional.

Devido a toda essa incerteza, o ouro se destacou, atingindo recordes com uma valorização de quase 19% no trimestre. A confiança do consumidor nos Estados Unidos tem apresentado uma queda, enquanto as expectativas de inflação seguem em alta, criando um ambiente desafiador para as ações americanas. O S&P 500 registrou uma queda de 4,6%, enquanto o Nasdaq perdeu 8,2%. O mercado começa a se ajustar a um cenário de desaceleração econômica, com temores de uma possível recessão ou estagflação.

O FED, na sua decisão de março, tentou tranquilizar o mercado ao afirmar que considera a inflação atual como um fenômeno transitório, principalmente no setor de bens, mas que se mantém ancorada no longo prazo. O Comitê enfatizou que a política monetária será ajustada com cautela, separando os “sinais” dos “barulhos”. Assim, a normalização das taxas de juros será feita sem pressa, especialmente se o mercado de trabalho continuar resilientes. Caso contrário, a política monetária restritiva poderá se prolongar.

Na Europa, o Banco Central Europeu reduziu a taxa de juros para 2,5%, acumulando 150 pontos de corte desde o início da flexibilização monetária. O cenário de inflação continua evoluindo conforme esperado pelo comitê, com a perspectiva de 2,2% para o núcleo em 2025 e 2% para 2026. No entanto, o comitê reconheceu as tensões geopolíticas, em especial as políticas tarifárias de Trump, como fatores de risco que continuam a afetar a atividade econômica da região. A instabilidade pode se intensificar, mas o aumento dos gastos com defesa pode impulsionar o crescimento e mitigar alguns impactos.

O banco da Inglaterra adotou uma abordagem cautelosa ao manter a taxa de juros em 4,5%, enfatizando que não há um caminho predefinido para as próximas reuniões, dada a elevada incerteza econômica global e doméstica. Entre os fatores de preocupação, destacou as tensões comerciais internacionais, os planos da Alemanha para aumentar gastos e a volatilidade dos mercados. A instituição reafirmou a projeção de inflação para 2025 em 3,75%, quase o dobro da meta, e ressaltou que os membros estão atentos aos acordos salariais nos próximos meses, fator importante para futuras decisões.

Na Ásia, o Banco central do Japão manteve a taxa de juros em 0,50%, expressando preocupação com o impacto das tarifas comerciais dos EUA e sinalizando que não há urgência para novos aumentos. A inflação ao consumidor veio acima do esperado, com os preços excluindo alimentos frescos registrando alta de 3% em relação ao ano anterior, desacelerando em relação aos 3,2% de fevereiro. No entanto, a inflação permanece acima da meta de 2% há 35 meses consecutivos. O presidente do BOJ, Kazuo Ueda, afirmou que as taxas de juros ainda estão significativamente baixas e que a política monetária dependerá da evolução da atividade econômica, dos preços e das condições financeiras futuras.

Adicionalmente, o Banco da China manteve a taxa de juros de um ano em 3,10%. Apesar de reconhecer a retomada do crescimento do país, a instituição segue cautelosa diante das pressões persistentes, especialmente as tensões comerciais com os EUA e as tarifas impostas. A economia chinesa mostrou sinais de recuperação no primeiro bimestre do ano, com as vendas no varejo crescendo 4% em relação ao mesmo período do ano anterior, superando o avanço de 3,7% registrado em dezembro. A produção industrial também superou as expectativas, com um crescimento anual de 5,9%. As autoridades indicaram que estão prontas para implementar novos estímulos caso o crescimento perca fôlego, segundo um dos conselheiros do Banco Central da China.

Em terras Brasileiras

No Brasil, o Banco Central elevou a taxa de juros em 100 pontos-base, como esperado, para 14,25%, e já sinalizou um novo aumento em maio, embora de menor magnitude. O comitê avaliou que há indícios iniciais de desaceleração da atividade econômica, enquanto o mercado de trabalho segue aquecido e o cenário externo permanece desafiador. O principal recado é que o ciclo de aperto monetário ainda não terminou, as expectativas de inflação seguem desancoradas e o balanço de riscos mantém viés altista.

Os ativos brasileiros tiveram um excelente e inesperado desempenho no trimestre, com o Real valorizando 7%, encerrando a R$ 5,75, e o Ibovespa registrando alta de 10%. Esse movimento foi impulsionado pelas incertezas em relação à economia americana, que levaram a uma migração de capital para economias emergentes e ao enfraquecimento global do dólar. Nossa visão para o Brasil permanece cautelosa e preocupada, dada a ausência de medidas efetivas para controle de gastos e a recorrente utilização do parafiscal como mecanismo de compensação.

Enfim, o trimestre foi marcado por grande imprevisibilidade, mas conseguimos entregar um resultado sólido e com menor volatilidade. Seguiremos subindo a montanha com a estratégia atual.