Carta do Gestor/Informativo Mensal Fevereiro de 2025
- Carta do gestor
- 10 de março de 2025
No mês de fevereiro, aconteceu um novo movimento de desalavancagem das posições de mercado que apostavam na valorização do dólar, no crescimento da atividade americana e no avanço da inflação global, impulsionado pelos potenciais tarifas comerciais dos EUA sobre seus parceiros. No entanto as negociações entre os países seguiam intensas na tentativa de evitar tais medidas. A definição desse cenário ocorreria em abril, quando conforme anunciado por Donald Trump, todas as tarifas deveriam estar em vigor a partir de 2 de abril de 2025. Até agora, apenas uma tarifa inicial de 10% sobre produtos chineses tinha sido implementada.
No penúltimo dia do mês, Donald Trump anunciou que as tarifas sobre o Canadá e o México entrariam em vigor em março e que a China enfrentaria um aumento adicional de 10%. Além disso, ameaçou impor novas tarifas à União Europeia. Esse anúncio reacendeu a tensão nos mercados, gerando mais ansiedade e elevando o risco de uma guerra comercial entre os países.
A persistente incerteza no cenário global tem impactado os dados econômicos dos Estados Unidos, refletindo uma desaceleração da atividade e um aumento das preocupações inflacionárias. O mercado segue precificando a possibilidade de um ou dois cortes na taxa de juros ao longo de 2025. No entanto, a ata da última reunião do Federal Reserve (FED) indicou que os dirigentes ainda enxergam a economia como resiliente, com um crescimento sólido e uma taxa de desemprego em níveis historicamente baixos. No último ano, o processo de redução da inflação mostrou-se mais lento do que o esperado, mantendo-se acima da meta de 2%, impulsionado por políticas do novo governo em áreas como comércio, imigração, fiscalidade e regulação. Assim, a política monetária segue restritiva, e o FED adota uma postura cautelosa, aguardando sinais mais consistentes do processo desinflacionário antes de realizar novos ajustes na taxa de juros.
Na Europa, a expectativa é de que a inflação atinja a meta de 2% ainda em 2025, o que pode viabilizar novos cortes na taxa de juros. Um sinal positivo é a inflação subjacente, que tem se mantido abaixo das projeções recentes, reforçando a continuidade do processo de desinflação. Entretanto, o principal desafio da Zona do Euro continua sendo o crescimento econômico, que segue fraco. Em resposta ao atual cenário geopolítico, os líderes europeus estão planejando um amplo pacote para aumentar os gastos com defesa, apoiar a Ucrânia e fortalecer a capacidade militar do bloco, após décadas de dependência dos Estados Unidos na área de segurança. Além disso, há discussões em andamento sobre a possível redução ou eliminação de tarifas sobre automóveis e outros produtos, na tentativa de evitar uma guerra comercial com os EUA.
Na Alemanha, Friedrich Merz e sua aliança conservadora venceram as eleições com 28,6% dos votos, mas sem uma maioria clara. A única opção viável é uma coalizão com os social-democratas de Olaf Scholz, que terminaram em terceiro lugar, obtendo o pior resultado desde a Segunda Guerra Mundial.
No Japão, a economia surpreendeu com um crescimento de 2,8% no terceiro trimestre, superando a projeção de 1,1%. A inflação atingiu 3,2% em janeiro, o nível mais alto dos últimos 19 meses, enquanto o núcleo da inflação avançou para 3,1%, acima dos 3% registrados em dezembro. Os salários também apresentaram um crescimento expressivo, subindo 4,8% em dezembro – o maior aumento desde 1997. Diante desse cenário, o governador do Banco do Japão, Kazuo Ueda, reiterou a necessidade de considerar aumentos graduais nas taxas de juros para conter os riscos inflacionários. O mercado projeta dois aumentos de 0,25% ao longo de 2025.
Na China, como resposta à tarifa imposta pelos EUA, o governo adotou uma medida de retaliação, aplicando uma tarifa de 10% sobre determinados produtos americanos. Apesar disso, ambos os países seguem negociando um possível acordo para suas relações comerciais. A expansão do crédito surpreendeu positivamente em janeiro, impulsionada por empréstimos sazonais e pela forte emissão de títulos governamentais. No setor imobiliário, o governo chinês está desenvolvendo um plano para evitar que a China Vanke Co. enfrente um colapso semelhante ao da Evergrande, o que poderia intensificar ainda mais as dificuldades de um setor já fragilizado. No Reino Unido, o Banco da Inglaterra reduziu a taxa de juros em 0,25%, para 4,5%. Entre os nove membros do comitê, dois votaram por um corte mais agressivo, de 0,50 ponto percentual. A instituição reforçou que a política monetária seguirá restritiva por tempo suficiente para garantir que os riscos de uma inflação persistente acima da meta de 2% sejam mitigados. Diante dessa decisão, o mercado agora projeta até três cortes de juros ao longo de 2025. Paralelamente, o governo britânico enfrenta pressões do mercado financeiro e planeja um corte de até 11% no orçamento, mesmo diante de demandas por maior investimento na defesa. O Tesouro solicitou que os chamados serviços públicos não protegidos – áreas fora de saúde, educação e defesa – apresentem dois cenários de ajuste antes da revisão orçamentária de três anos, prevista para junho.
No Brasil, o destaque ficou por conta da pesquisa Datafolha, que apontou uma queda na popularidade do presidente Lula para 24%, o menor índice registrado em seus três mandatos. Esse declínio é atribuído, principalmente, à alta dos preços dos alimentos, à valorização do dólar e às discussões em torno da taxação do PIX. O mercado reagiu positivamente à possibilidade de uma mudança no cenário político em 2026, impulsionado pelas expectativas em torno de uma eventual candidatura de Tarcísio. No entanto, ainda é cedo para que esse fator se traduza em apostas concretas, o que limitou a sustentação da alta na bolsa.
No campo econômico, o mercado segue ajustando suas posições diante do desmonte de apostas compradas no dólar. Desde o início de janeiro, investidores estrangeiros já venderam US$ 18 bilhões, levando a moeda americana a níveis inesperados em comparação ao final de 2024. A atividade econômica, por sua vez, tem mostrado uma desaceleração em linha com as expectativas, com projeções de crescimento do PIB variando entre 2% e 2,5% para o ano.
As recentes declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que uma inflação entre 4% e 5% seria uma “normalidade” para o Brasil, reforçaram as expectativas de uma nova alta de 1 ponto percentual na taxa Selic na reunião de março. Diante desse cenário, o mercado agora especula se o Comitê de Política Monetária (Copom) adotará essa elevação como o último ajuste do ciclo ou se deixará para maio um aumento final de menor magnitude, levando a taxa terminal para um patamar entre 14,25% e 14,75% No entanto, novas medidas do governo, como a liberação do crédito consignado e o saque do Fundo de Garantia para estimular o aumento do crédito em circulação, somadas a um número de empregos (CAGED) acima do esperado — sinalizando que o emprego e a atividade econômica não estão se enfraquecendo como o mercado previa —, levaram o dólar de volta a R$ 5,90 na virada do mês. Isso também resultou na abertura das taxas longas, que vinham recuando ao longo de fevereiro. Parte desse ajuste no final do mês se deve ao fato de o mercado brasileiro ter permanecido fechado durante o Carnaval, enquanto o mercado externo operava normalmente.
Tivemos um mês positivo, com ganhos nos mercados de câmbio e bolsa, tanto no Brasil quanto nos EUA, mas com perda no mercado de juros. Atualmente, mantemos uma posição tática para o Carnaval: comprados em bolsa brasileira e dólar, aplicados no contrato de janeiro/27 e vendidos na bolsa americana. No geral, seguimos preocupados com o cenário interno, pois não observamos mudanças na postura do governo em relação à questão fiscal. No cenário externo, as tarifas impostas por Trump e sua tentativa de ajustar as contas fiscais podem levar a uma desaceleração da economia americana, acompanhada por um aumento da inflação no curto prazo — uma combinação nada favorável para os mercados.